escrito por Ronaldo Dória Dantas, cordelista de Aracaju
"Quero falar de um encontro
que aconteceu no sertão
de dois cabras bem valentes
tendo uma arma na mão
um usava sua pistola
o outro a sua viola
cada um com seu refrão
em uma noite de lua
ficaram a conversar
Lampião disse a Raul:
com você vou prosear
gosto de gente destemida
e também muito atrevida
valente como um jaguar
L: eu quando deixei o mundo
tava sendo procurado
porque de todo mal feito
eu logo era acusado
parecendo até que eu era
uma grande besta fera
ou então um cão danado
RS: quando eu estava na terra
passei foi grande sufoco
eu fui taxado de tudo
disseram que eu era louco
por que eu era diferente
olhava o povo de frente
e falava um pouco rouco
L: eu gostava de estudar
poderia ser doutor
porém, o que eu mais queria
era ser um bom montador
era muito corajoso
com um cavalo fogoso
eu mostrava meu valor
RS: quando a cabeça esquentava
eu deitava numa rede
tomava um aperitivo
e matava logo a sede
com a guitarra na mão
e cantando uma canção
feita na minha parede
L: ninguém nasce Lampião
Raul posso lhe dizer
todo mundo tem um sonho
feliz na terra viver
mas o mundo tem segredo
que até nos mete medo
mudando nosso querer
RS: neste mudo tem de tudo
amigo vou lhe mostrar
tem até paraquedista
lá brincando de voar
hora de metamorfose
de tomar aquela dose
tem hora do trem passar
L: Raul, todas suas músicas
eu trago no coração
você cantava de tudo
do rock até o baião
eu no sertão ressecado
gosto mesmo d'um xaxado
tirando poeira do chão
RS: você não estudou muito
mas mandou bem seu recado
comandou homens valentes
um povo bravo danado
e quando você falava
seu povo todo escutava
bem quieto, bem calado
L: eu não tive muito tempo
para poder aprender
fui um homem tão caçado
correndo pra não morrer
não me deixavam respirar
só querendo me matar
lutei pra sobreviver
RS: conheci sua história
fiquei bastante abismado
acusaram você d'um crime
sem você ter praticado
levaram-no a prisão
como se prende um ladrão
deixando-o indignado
L: mataram meu querido pai
como quem matam um cão
foi talvez dando um aviso
'os outros também se vão'
assim, mesmo sem querer
começou ali a nascer
o famoso Lampião
RS: através da minha música
tentei mandar meu recado
procurei todos os temas
queria ser escutado
o povo não me ouvia
assim, de tudo sorria
ali, morava o pecado..."
quem quiser ver a continuação desse e de outros cordéis, exposição na vila do forró, orla de Atalaia.
... e viva a literatura de cordel!
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3 comentários:
nooossaaaa ainda tem continuação!!!
pow quero ver
se não ficar chovendo todo dia vamos dar aquela velha caminhada?!
:)
nossa!
queria tá aí!
massa demais...
beijos!
Vanessa,
pode deixar que faremos o possível pra levar Manifesto III aí ;)
bjs!
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